A Caixa Econômica Federal aposta na aceleração do crédito destinado à baixa renda, especialmente do Programa Casa Verde e Amarela (CVA), para bater a meta de crescimento de 10% da carteira de financiamento imobiliário neste ano. Com o ritmo acelerado nos últimos meses, o banco público já antevê uma possível solicitação de suplementação orçamentária até o fim do ano ao Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Em entrevista ao Valor na sede do banco, em Brasília, a vice-presidente de Habitação da Caixa, Henriete Sartori Bernabé, entrou na sala comemorando os resultados históricos que a área vem conquistando. “Temos números bons na habitação. Vamos parar de falar de recorde que vai perder a graça”, brincou a vice-presidente.
Para 2022, somando imóveis financiados com recursos do FGTS e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), a meta da instituição é alcançar R$ 155 bilhões em contratações, sendo R$ 68,2 bilhões do FGTS. Até agosto, já foram contratados R$ 106,4 bilhões, sendo R$ 41,6 bilhões do FGTS e R$ 64,8 bilhões do SBPE.
O banco bateu recorde no âmbito do CVA em agosto. No último mês, foram R$ 7,2 bilhões contratados na modalidade, valor 45,6% superior ao mesmo período de 2021. Somente a pessoas físicas, foram contratados no programa R$ 5,8 bilhões em agosto, aumento de 41,4% em relação a julho de 2022, número na média mensal “bem superior” comparado com as anteriores, segundo a vice-presidente. Mesmo com a perspectiva de aumento da carteira, a executiva não vê aumento da inadimplência, que é de 1,79% e com tendência de queda, diz.
“No segundo semestre, teremos um ritmo um pouco mais acelerado no CVA do que no SBPE, que também está um pouco acima do planejado”, avaliou, ao explicar que houve um represamento de recursos no primeiro semestre deste ano para o programa habitacional, que deve ser compensado até dezembro. Para os financiamentos com uso do FGTS, a meta do banco é aplicar 20% a mais em relação ao último ano.
Bernabé afirma que o crédito do CVA “destravou” e deve se acelerar, podendo exigir recursos adicionais do FGTS, devido a três medidas tomadas este ano, que marca as eleições presenciais: deslocamento das faixas de renda, aumento no valor do subsídio para o valor de entrada, facilitando a compra do imóvel, e, por último, a recente ampliação do prazo de financiamento no âmbito do programa, que passou de 30 anos para 35 anos desde 1º de setembro. Em relação à ampliação no prazo do financiamento, a VP da Caixa avalia que ainda é cedo para antecipar tendências, mas frisa que o ritmo financiamentos vai na mesma linha do que ocorreu em agosto, quando houve recorde.
O prazo maior, segundo o banco, poderá resultar em uma queda de 7,5% no valor da prestação. “É uma medida que ajuda a prestação a caber no bolso das famílias de baixa renda, que antes poderiam não ter capacidade com o valor do imóvel”, afirmou.
Ainda com taxas de juros mais baixas se comparadas ao restante do mercado, a executiva diz que houve dois realinhamentos recentes, frente à alta da Selic, mas não há previsão de novas altas. “Estamos atentos aos concorrentes, mas nossa estratégia é continuar com as melhores condições de mercado.” Segundo Bernabé, é possível manter taxas em condições vantajosas dada a expertise do banco na habitação. “Há uma história muito grande, com ganho de escala e eficiência, além de uma estrutura forte.” Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) apontam que a Caixa subiu de 38,57% para 53,60% em market share em contratações no SBPE no primeiro semestre de 2021 para 2022.
Ela também destaca o aumento da procura pelo programa Pró-Cotista, voltado para trabalhadores com saldos no FGTS e que querem financiar imóveis de até R$ 1,5 milhão. Essa modalidade tem taxa de juros mais baixas que financiamentos convencionais dos bancos. O banco tem um orçamento disponível de R$ 1,5 bilhão no âmbito desta modalidade este ano.
Em julho, houve redução das taxas de juros para os que se enquadram na modalidade e efetivarem a contratação até 31 de dezembro deste ano. As novas taxas vão agora de TR + 7,16% ao ano para imóveis de até R$ 350 mil, representando uma redução de 1 ponto percentual. Em relação aos imóveis com valor acima de R$ 350 mil, limitado ao teto do Sistema Financeiro Habitacional, que é de R$ 1,5 milhão, a taxa foi ajustada para TR + 7,66% ao ano, em 0,5% de redução em relação à taxa original de 8,16%. Após essas reduções, somente em agosto, foram contratados R$ 178 milhões – no acumulado desde janeiro, o valor soma R$ 193 milhões.
Bernabé avalia que, com condições mais vantajosas, a tendência é que os recursos para este programa acabem antes do fim do ano e, assim, o banco também precise pedir suplementação ao Conselho curador do FGTS.
Fonte: https://www.abecip.org.br/imprensa/noticias/caixa-quer-crescer-10-em-credito-imobiliario-valor-economico